Maior traficante do Equador extraditado para os EUA se declara inocente
O narcotraficante equatoriano José Adolfo Macías, conhecido como Fito, líder da quadrilha Los Choneros, declarou-se nesta segunda-feira (21) "inocente" das sete acusações feitas pela justiça dos Estados Unidos em sua primeira audiência em um tribunal de Nova York, após ser extraditado para o país.
Tranquilo e sorridente ao lado de seus advogados, sem algemas, e vestido com uniforme de presidiário - calça cáqui, camisa escura e, por baixo, camiseta laranja, mesma cor de seus tênis —, Macías se declarou inocente por meio de sua defesa diante da juíza Vera Scanlon, do Tribunal do Distrito Leste de Nova York, que antes lhe leu seus direitos.
Suas respostas, quase inaudíveis, foram vocalizadas pelo tradutor que o acompanhou durante a audiência, junto com os advogados.
A promotoria nova-iorquina acusa o chefão equatoriano de "inundar" os Estados Unidos e outros países com drogas e de usar "medidas extremas de violência em sua busca por poder e controle".
O acusado "achou que poderia traficar veneno em nosso país, contrabandear armas americanas para seus assassinos e promover sua organização criminosa usando o caos e o derramamento de sangue", declarou o administrador interino da DEA (Agência Antidrogas dos EUA), Robert Murphy.
"Ele estava errado", acrescentou.
— "Impiedoso" —
Por enquanto, esse "traficante de drogas e armas impiedoso e famoso", como é descrito pela promotoria, permanecerá preso devido à sua "periculosidade" e "alto risco de fuga", enquanto aguarda julgamento em um caso considerado "complexo".
Diante da pergunta da juíza sobre uma possível negociação para um acordo de confissão de culpa que evitaria que ele fosse a julgamento, seu advogado Alexei Schacht declarou que "precisa de tempo para revisar o processo e decidir com meu cliente".
A justiça americana o acusa de sete crimes, como conspiração para distribuição internacional de cocaína; uso de armas de fogo para facilitar o tráfico de drogas; contrabando de armas de fogo a partir dos Estados Unidos; e conspiração para compra fraudulenta de armas de fogo, entre outros.
Esses crimes são puníveis com um mínimo de 20 anos de prisão até prisão perpétua.
A próxima audiência está marcada para 19 de setembro.
O governo de Donald Trump "mantém seu compromisso de acabar com o flagelo do narcotráfico e de colaborar com parceiros regionais como o presidente [do Equador] @DanielNoboaOk para tornar nossa região mais segura e mais forte", escreveu na rede social X o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio.
Macías foi capturado em 25 de junho em Manta, cidade no oeste do Equador onde os "Los Choneros" têm seu reduto, e foi extraditado no domingo para Nova York. Ele havia fugido de uma prisão de segurança máxima em 2024.
— "Golpe contra o crime organizado" —
Temendo ser assassinado na prisão por seus numerosos inimigos, Fito aceitou na semana passada sua extradição aos Estados Unidos de maneira "livre e voluntária".
Para a porta-voz do governo equatoriano, Carolina Jaramillo, sua extradição representa "um duro golpe para o crime organizado" no país.
As "operações para desmantelar as economias criminosas são ações que enfraquecem as máfias", afirmou Jaramillo nesta segunda-feira em entrevista coletiva.
No entanto, essa captura não conseguiu reduzir a violência no Equador, onde operam cerca de vinte quadrilhas dedicadas ao narcotráfico, extorsão, mineração ilegal e assassinatos por encomenda.
Entre janeiro e maio, as autoridades registraram 4.051 assassinatos.
Na semana passada, na província de Manabí (oeste), reduto dos Los Choneros, ao menos 20 pessoas morreram em diferentes massacres.
O Equador, que no passado foi um oásis de paz na América Latina, é atualmente uma das nações mais violentas da região, devido à guerra entre facções que aproveitam seus portos estratégicos, a economia dolarizada e a corrupção.
A taxa de homicídios passou de 6 por 100 mil habitantes em 2018 para 38 por 100 mil em 2024.
Pelos portos equatorianos transita 73% da cocaína produzida no mundo, segundo fontes oficiais.
Em 2024, o país, situado entre Colômbia e Peru, os maiores produtores mundiais de cocaína, apreendeu o número recorde de 294 toneladas de drogas.
Fito é o primeiro equatoriano extraditado pelo próprio país desde que essa possibilidade foi restabelecida em 2024, após um referendo impulsionado pelo presidente Daniel Noboa para reformar a lei em meio à sua guerra contra o crime.
A fuga de alias Fito em 2024 levou Noboa a declarar um "conflito armado" interno no Equador, que segue em vigor e permite o uso das Forças Armadas nas ruas e prisões. Essa medida tem sido duramente criticada por organizações de direitos humanos.
K.Lehmann--BP