

Drusos retomam controle da cidade síria de Sweida
Os combatentes drusos repeliram neste sábado (19) os grupos armados rivais da cidade de Sweida, no sul da Síria, depois que o governo do país árabe anunciou um cessar-fogo para tentar interromper um ciclo de violência que deixa 940 mortos em menos de uma semana.
No entanto, os combates continuam no restante da província de Sweida, entre os drusos, por um lado, e beduínos e integrantes de forças tribais sunitas vindos de outros pontos do país pelo outro, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Os enfrentamentos prosseguiram durante todo o dia, apesar do anúncio pela manhã de um cessar-fogo "imediato" por parte das autoridades sírias, que começaram a mobilizar suas forças na província de Sweida.
Em um bairro da cidade homônima, combatentes dessas forças tribais, alguns mascarados, foram gravados por câmeras da AFP disparando com armas automáticas contra seus adversários.
Um dos combatentes usava uma faixa preta ao redor da testa com a profissão de fé do islã. Outro brandia uma tesoura, usada para cortar os bigodes dos anciãos drusos, o maior insulto para este povo de guerreiros orgulhosos.
Um correspondente da AFP viu dezenas de casas e automóveis queimados, e homens armados ateando fogo em lojas após terem-nas saqueado.
"Viemos aqui e vamos massacrar todos eles em suas casas", disse um dos combatentes, que se identificou como Abu Khassem, referindo-se aos drusos.
Contudo, graças a uma contraofensiva drusa, "os combatentes das forças tribais se retiraram de Sweida na noite de sábado", reportou o OSDH.
Bassem Fajr, porta-voz do Movimento dos Homens Dignos – uma das duas principais facções armadas da comunidade drusa – confirmou à AFP que "não há mais beduínos na cidade".
O OSDH, uma ONG que possui uma ampla rede de fontes no terreno, indicou que ainda há combates em outras partes da província de Sweida. E o site local Suwayda24 relatou intensos confrontos na localidade de Ariqa.
- Um cessar-fogo frágil -
O ministro da Informação sírio, Hamza Mustafa, reconheceu neste sábado pela noite que o cessar-fogo é "frágil" e explicou que a primeira fase de implementação começou com "o envio das forças de segurança para a província de Sweida", mas não para a cidade propriamente dita.
A segunda fase prevê a abertura de corredores humanitários entre Sweida e a província vizinha de Deraa, a oeste, "para garantir a evacuação de civis e feridos", explicou o ministro.
O governo sírio, alegando querer restaurar a ordem, enviou suas forças na terça-feira a Sweida, até então controlada por combatentes drusos.
Contudo, as retirou diante da pressão militar de Israel, que bombardeou vários alvos governamentais em Damasco.
Israel, que afirma querer defender os drusos, uma minoria esotérica derivada do islã xiita, se opôs até agora à presença das forças governamentais sírias na região.
Mas os Estados Unidos anunciaram um acordo de cessar-fogo entre a Síria e Israel na noite de sexta-feira, para que os israelenses não voltem a bombardear o país vizinho neste momento, e pediram aos "drusos, beduínos e sunitas que deponham as armas".
A União Europeia deu boas-vindas ao cessar-fogo, anunciado pelo enviado americano para a Síria, Tom Barrack, e disse que era hora "de dialogar".
Barrack afirmou na rede social X que estabeleceu com os titulares das Relações Exteriores de jordaniano e sírio "medidas concretas para ajudar a Síria a aplicar o acordo de cessar-fogo", após reunião realizada neste sábado em Amã, a capital da Jordânia.
- 'Vala comum' -
O OSDH, testemunhas e grupos drusos haviam acusado as forças governamentais destacadas em Sweida de lutarem ao lado dos beduínos e cometerem crimes.
Os confrontos deixaram 940 mortos desde 13 de julho na província, incluindo 588 drusos (326 combatentes e 262 civis), 312 membros das forças governamentais e 21 beduínos sunitas, segundo o OSDH.
Cerca de 87 mil pessoas foram deslocadas pela violência, segundo a Organização Internacional de Migração (OIM).
Omar Obeid, médico do hospital público de Sweida, o único ainda em funcionamento na cidade, disse que "mais de 400 corpos" chegaram entre segunda a sexta-feira, entre os quais havia crianças e idosos.
"Isto já não é mais um hospital, é uma vala comum", disse outro funcionário do centro de saúde municipal, que não tem água nem eletricidade e as comunicações estão cortadas.
Os confrontos representam um dos principais desafios para o novo governo sírio, liderado pelo ex-jihadista Al Sharaa em um país marcado por quase 14 anos de guerra civil.
O dirigente prometeu proteger as minorias neste país diverso, mas esses incidentes, e os assassinatos meses atrás de membros da comunidade alauita (o ramo do islã ao qual Assad pertence), minam esse compromisso.
M.Ritter--BP