

Brasil diz aos EUA que está 'pronto para dialogar' sobre tarifas
O governo brasileiro manifestou aos Estados Unidos sua "indignação" diante dos anúncios de tarifas de 50%, mas reiterou que "permanece pronto" para negociar, segundo uma carta divulgada nesta quarta-feira (16).
"O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral", diz a carta enviada na terça-feira ao secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e ao representante comercial Jamieson Greer.
O documento, assinado pelo vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, e pelo chanceler Mauro Vieira, não menciona a investigação ao Brasil aberta na terça pelo governo de Donald Trump por "práticas comerciais injustas".
Mas, após se reunir nesta quarta com representantes de empresas americanas no país, Alckmin disse que o governo brasileiro não vê "nenhum problema" na investigação. "O que nós precisamos resolver é a questão tarifária", acrescentou.
Trump ameaçou na semana passada impor tarifas de 50% sobre as importações brasileiras, em parte pelo que considera uma "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Na carta oficial, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou sua "indignação" pela medida e alertou sobre seus possíveis efeitos econômicos.
"A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte", destaca o texto de uma página.
O governo federal apontou que há meses solicitou aos Estados Unidos que identificassem áreas de preocupação no comércio bilateral e que, em maio, apresentou uma "minuta confidencial de proposta" para explorar "soluções mutuamente acordadas".
Porém, "o governo brasileiro ainda aguarda a resposta dos EUA", afirmaram Alckmin e Vieira na carta.
Os Estados Unidos abriram uma investigação por considerarem que o Brasil concede preferências tarifárias a outros países, nega proteção à propriedade intelectual e descuida da vigilância do desmatamento ilegal.
Também acusam o Brasil de "favorecer" o Pix, o sistema de pagamentos instantâneos criado pelo governo e amplamente utilizado no país.
"O Pix é um modelo, é um sucesso", replicou Alckmin, em declarações aos jornalistas, enquanto o governo Lula desafiava Washington em uma campanha nas redes sociais com o lema: "O PIX é nosso, my friend".
A inesperada crise com os Estados Unidos elevou a popularidade de Lula, que tem invocado uma mensagem de unidade nacional diante da "interferência" americana.
A aprovação do petista subiu três pontos percentuais para 43%, enquanto sua desaprovação caiu de 57% para 53%, entre maio e julho, segundo uma pesquisa da Quaest.
F.Hoffmann--BP