

Rússia e Ucrânia decidem trocar prisioneiros, mas destacam distância de suas posições
Russos e ucranianos concluíram, nesta quarta-feira (23), uma terceira rodada de negociações diretas em Istambul, na Turquia, nas quais constataram que suas posições continuam muito "distantes" para encerrar a guerra iniciada há mais de três anos, e apenas estabeleceram uma nova troca de prisioneiros.
As discussões em Istambul em maio e junho também não geraram mais que acordos de trocas de prisioneiros e corpos de soldados mortos.
"Debatemos longamente as posições expostas por nossas partes nos memorandos transmitidos da última vez. Essas posturas continuam bastante distantes. Concordamos em continuar em contato", disse Vladimir Medinsky, chefe da delegação russa, em uma declaração à imprensa.
"Seguindo com a troca de prisioneiros de guerra, concordamos que pelo menos mais 1.200 prisioneiros de guerra serão trocados por cada lado em um futuro próximo", continuou.
Moscou também propôs a Kiev entregar os corpos de três mil soldados ucranianos, bem como tréguas de "24 a 48 horas" no front para que ambos os exércitos possam recuperar seus mortos e feridos, segundo Medinsky.
Por sua vez, a Ucrânia sugeriu um encontro entre o presidente Volodimir Zelensky e seu par russo, Vladimir Putin, no final de agosto, possivelmente na presença dos presidentes de Estados Unidos, Donald Trump, e Turquia, Recep Tayyip Erdogan.
"A prioridade número um é organizar a reunião dos líderes, dos presidentes", afirmou o negociador ucraniano, Rustem Umerov. O último encontro entre os dois foi em 2019.
Durante o dia, o Kremlin já havia reduzido as expectativas de avanços para encerrar o conflito, iniciado com a invasão russa ao vizinho em fevereiro de 2022 e que já deixou dezenas de milhares de mortos e feridos.
"Ninguém espera um caminho fácil", declarou o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, e reiterou que as propostas das duas partes para pôr fim ao conflito são "diametralmente opostas".
- EUA aprova venda de armas à Ucrânia -
Essas novas conversas diretas ocorreram após pressões exercidas por Trump, que, em meados de julho, deu à Rússia 50 dias para acabar com sua ofensiva, sob ameaça de sanções severas.
Nesta quarta-feira, os Estados Unidos anunciaram a aprovação de uma venda de armas à Ucrânia por 322 milhões de dólares (R$ 1,78 bilhão), destinada principalmente a reforçar suas defesas aéreas, segundo um comunicado.
É a segunda venda de armas à Ucrânia, que também inclui veículos blindados, desde o retorno de Trump à Casa Branca em janeiro.
O dirigente republicano vem tentando negociar o fim da guerra, mas não conseguiu nenhuma concessão do Kremlin, apesar das repetidas conversas telefônicas com Putin.
As posições de ambos os lados parecem atualmente irreconciliáveis.
A Rússia reivindica os quatro oblasts (região administrativa) ucranianos parcialmente ocupados, que afirma ter anexado em setembro de 2022: Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia. Também exige que Kiev desista do fornecimento de armas ocidentais e do projeto de adesão à Otan.
A Ucrânia descarta negociar concessões territoriais antes de pactuar uma trégua, e garante que nunca reconhecerá as reivindicações russas sobre seu território ocupado, incluindo a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
Também exige, junto com seus aliados europeus, um cessar-fogo de 30 dias, ao qual os russos, cujas forças têm a vantagem no terreno, se opõem.
- Avanços da Rússia -
Kiev e seus aliados ocidentais acusam o Kremlin de bloquear as negociações mantendo demandas maximalistas, enquanto o Exército russo, mais numeroso e melhor equipado, continua seus ataques na linha de frente, onde avança a cada dia.
Nesta quarta-feira, o Ministério da Defesa russo reivindicou a tomada de uma nova localidade, Varachyne, no oblast ucraniano de Sumy, onde os ataques de drones russos causaram cortes de eletricidade para mais de 220.000 clientes durante a noite, de acordo com Zelensky.
Entre a noite de terça-feira e a madrugada desta quarta, a Rússia lançou 71 drones contra quatro regiões diferentes da Ucrânia, informou a força aérea ucraniana.
Três pessoas morreram no oblast de Kherson, segundo as autoridades locais, que também reportaram nove feridos.
Por sua vez, o Exército russo afirmou ter neutralizado durante a noite 33 drones ucranianos lançados contra a Rússia, e várias dezenas durante o dia.
F.Hoffmann--BP